domingo, 11 de abril de 2010

O Enforcado em Auto da Barca do Inferno

Quase no fim do auto, aparece-nos um ladrão a quem a Justiça condenou à forca, ainda com a corda ao redor do pescoço, que vem convencido de que irá para o Céu.
Gil Vicente diz-nos que este foi intrujado por Garcia Moniz (tesoureiro da Casa da Moeda de Lisboa). Este teria convencido o ladrão enforcado de que iria para o Paraíso, visto ter-se já purificado dos pecados cometidos no purgatório do Limoeiro e que poder-se-ia considerar um “santo canonizado” por muito ter sofrido durante toda a sua vida.
Contudo, o Enforcado, desiludido pelo Diabo, reconhece finalmente que não tem perdão possível e, tal como já fizera o Judeu, nem sequer vai pedir ao Anjo que o acolha.

É nítida a intenção de Gil Vicente de satirizar mais a doutrina de Garcia Moniz do que o próprio ladrão enforcado. Esta personagem aparece aqui como vítima. Quem é verdadeiramente criticado é o tesoureiro por ter induzido em erro o ladrão, sabendo à partida que não havia salvação possível para ele.
De novo, Gil Vicente põe-nos face a uma personagem com responsabilidade que engana os mais fracos. E o mais fraco, neste caso, é o Enforcado.

O Enforcado é ingénuo, simples, confiante. É uma personagem sem vontade própria, que se deixa facilmente influenciar.

Na cena do Enforcado, Gil Vicente satiriza a tese da salvação da alma e da purificação dos pecados através da morte na forca. Garcia Moniz convence o Enforcado de que já se teria libertado dos pecados no purgatório da prisão e, como tinha sofrido muito na vida, era um “santo”. O Enforcado parece ser mais uma vítima da sua ingenuidade do que propriamente culpado. Como até hoje não se possuem dados documentais concretos sobre Garcia Moniz, esta cena continua envolta em dúvida. Os espectadores da época fizeram, provavelmente, uma interpretação diferente da nossa.

1 comentário:

Anónimo disse...

boas pessoal voces sabem quem fala aqui e o tiagovski e levantar a escala minecraft em gsto de jgr